Minha jornada até me tornar psicoterapeuta foi um entrelaçamento de experiências de diversas naturezas. Minha primeira graduação foi em Enfermagem. Fiz especialização em Saúde Mental, mestrado com enfoque na Educação e doutorado em Ciências, com ênfase na Educação em Saúde Mental. Nesse período, minha atuação profissional concentrou-se na área de saúde mental e psiquiatria, tanto nos serviços de saúde quanto na pesquisa científica e na docência (em cursos profissionalizantes, técnicos, de graduação e pós-graduação).

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Quando iniciei o curso de Psicologia, me interessei pelas abordagens profundas, voltadas ao inconsciente. Na Enfermagem, pela proximidade com a saúde mental, compreendi que o cuidado que eu desejava oferecer ia além do corpo. Na especialização em Saúde Mental, entrei em contato com a psicanálise, e meu interesse pela profundidade se consolidou. O cuidado humanizado, tão caro à Enfermagem, tornava-se íntimo da ideia de que isso é possível por meio do acolhimento de tudo o que é humano. Tudo o que sentimos, sentimos porque é próprio da nossa espécie sentir.

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Durante o mestrado, esse pensamento encontrou eco na teoria da complexidade de Edgar Morin. Complexo vem da palavra latina complexus, que significa "o que é tecido em conjunto". A teoria da complexidade propõe alinhavar o que está separado, pois a dicotomia aplicada aos fenômenos da natureza não abarca o ser humano em sua integralidade. A separação de atributos em polos opostos (matéria e espírito; corpo e mente; emoção e razão) dificulta a compreensão do humano. 

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No mestrado, também tive a oportunidade de me aproximar do fenômeno estético por meio do uso de imagens fotográficas, utilizando o método da foto-elicitação, para compreender o conceito de ser humano. Essa experiência foi intensa, pois me possibilitou diálogos que iam além da linguagem verbal — estavam no campo do intangível (ou do parcialmente tangível), do simbólico.

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Ao final do doutorado, senti-me incomodada. Apesar do evidente diálogo entre minhas áreas de atuação, eu convivia com o paradoxo certeza-dúvida: eu sabia que meu ofício era o cuidado, mas hesitava quanto à forma de oferecê-lo. Tudo o que eu havia feito tinha sentido, mas o próximo passo exigia um refinamento no trabalho em saúde mental. Para isso, entre os caminhos que se apresentavam, o trajeto escolhido foi o da profundeza — rumo das questões de psique/alma. Assim, iniciei minhas formações em Arteterapia, Psicanálise e Psicologia.

Meu trajeto é feito de nuances. Cada uma delas contempla minha crença de que a profundeza é sentida no corpo. Que a comunicação se dá pela fala, pelo movimento, pelo gesto. Que criar é um ato humano. Que o que sentimos na alma, sentimos no corpo.